Viva e deixe viver

Convivemos intensamente socialmente. A verdadeira privacidade é rara. Estamos constantemente expressando nossos sentimentos, nossos pensamentos, compartilhando atividades. A internet permitiu que criássemos uma vida editada. E no meio disso tudo, é fácil esquecer a resposta para uma pergunta: pra quem estamos vivendo?

Inegável que fazemos parte de uma comunidade. Inegável que nenhum homem é uma ilha. Precisamos uns dos outros para progredir enquanto sociedade… mas, não precisamos do outro para ser feliz. Relacionamentos são oportunidades para nos expressarmos, sermos quem somos e nos conhecermos. Ou, de outra maneira, como agiríamos, reagiríamos, interagiríamos? A felicidade, por sua vez, é um estado de Espírito, de humor – se assim preferir. O único que sente ou não os seus sentimentos é o próprio indivíduo, que pode condicioná-los ao que ele quiser.

“Só vou ver feliz se tiver um carro do ano”, “Só vou ser feliz de ganhar R$20 mil por mês”, “Só vou ser feliz se tiver uma família Doriana”, “Só vou ser feliz se meu marido for mais presente”, “Só vou ser mais feliz se o Fluminense ganhar o brasileirão”, “Só vou ser feliz se o PT explodir”. É ótimo querer! Desejos, interesses nos movem. Mas condicionar a felicidade e o bem-estar às circunstâncias externas, sobre a qual não temos nenhum controle… é imprevisível e instável demais. E nisso, criamos expectativas impossíveis, incontroláveis… parâmetros que sufocam, na espera de que o mundo siga com ele para que possamos simplesmente nos sentir bem.

A expectativa é algo que massacra. Tanto quem espera, quanto aquele de quem é esperado. Cria-se um padrão mental e espera-se que o outro corresponda a ele. É o sentimento condicional. Justifica-se a infelicidade, a falta de educação, a grosseria com o comportamento do outro. Contudo, nada, nem ninguém, tem o controle sobre como nos sentimos e como agimos, a não ser conforme nossa própria permissão. Se eu escolho ser a única responsável por como eu me sinto, que tipos de pensamentos eu penso, como eu sou e como eu ajo… eu serei! Contudo, a contrário, se eu me condicionar a tudo a meu redor… eu estarei criando uma prisão para mim mesma. Deixando a cargo dos outros aquilo que só cabe a mim.

Para ser feliz é preciso ter Amor. Por nós e por tudo. “Ama o próximo como a ti mesmo”. Tenho que primeiro me amar, para amar ao próximo, pois os nossos relacionamentos são um reflexo do relacionamento que temos com nós mesmos. E o Amor respeita. Ele aceita as limitações do próximo, não tendo a menor intenção de escravizá-lo às suas vontades para oferecer algum sentimento. A capacidade de sentir é nossa, não do outro.

Não imponha roteiros aos outros, nem vista as fantasias de outra pessoa. Cada um é livre para sentir e ser o que quiser. É preciso libertar-se das amarras que nos sufocam: a expectativas da submissão do outro à nossa vontade e, principalmente, de nossa própria submissão às expectativas alheias.

Viva e deixe viver… e em um mundo liberto, poderemos finalmente respirar em paz, com a consciência de que estamos lidando com pessoas e não com máscaras.